

Vende-se, uma simples palavra exposta num edifício decrépito
para quem passa pouco diz ou não tem motivo de interesse. Mas recordando o
passado e aplicando a máquina do tempo recuo até agosto de 1967 quando com 11
anos e oito meses um acontecimento fez com que este mesmo edifício no seu esplendor
me tivesse acompanhado ao longo de todos estes anos.
Pode-se dizer que nada teve de especial esse dia no mundo,
mas para uma criança foi o conhecer pela primeira vez a magia do grande ecrãn,
a magia do som potente que saia das colunas.
Nessa noite que me lembro de um calor como só no Alentejo se
encontra, entrei pela primeira vez numa sala de cinema, e tudo graças ao meu
querido e persistente tio José Carlos Ceia. E digo persistente pois como se
lembram um pequeno jovem que lhe faltava três meses para comemorar os seus doze
anos e ainda por cima tendo um corpo franzino e que mais aparentava ter dez
anos, nunca o teriam deixado entrar no cinema sendo o filme classificado para
maiores de 12 anos, e como lembro só a persistência do meu tio de volta do
porteiro cerca de uns quinze longos minutos que a mim pareceram séculos tal a
emoção que se vivia dentro do meu ser.
Ainda hoje me lembro do filme, “A Rainha Viking”, um filme
que adorei e ainda hoje recordo a sua história passada na Grã Bretanha e que
quando acabou me deixou aborrecido porque a minha heroína acabou por sucumbir
ao poderoso exército romano, hoje penso que foi o meu primeiro filme mas também
o primeiro a ensinar-me que mesmo morrendo como aconteceu à Rainha e mesmo ela
sabendo que iria ser a sua sina, mesmo assim não se deve deixar de lutar por
aquilo que consideramos ser o correcto, o justo, e sobretudo lutar por nós pelo
nosso povo e pelo nosso país é um dever que nunca deve ser atraiçoado.
Por tudo o que aprendi nessa longínqua noite de 1967, quero
sublinhar que este edifício hoje parece esquecido pela cidade de Portalegre e
por muitos que como eu lá viveram e saborearam o prazer do cinema não quero deixar
de ao escrever esta pequena história homenagear não um homem, não uma mulher,
mas simplesmente homenagear um edifício que ainda se chama Cineteatro “CRISFAL”.
E perante o
poder político só digo, que pena como vocês deixam perder-se toda uma história
que através destes edifícios, destes jardins destas paredes que nos acolhem e
nos fazem viver e que aos poucos vão desaparecendo da história desta linda
cidade.
Ao meu tio
José Carlos que hoje já nos deixou mas a mim deixou-me sempre a primeira vez que
saboreei o cinema…
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